Na antiga Grécia, o filósofo grego Sócrates já dizia: “conhece-te a ti mesmo”. Na verdade, essa máxima não foi criada por esse importante sábio, e não se sabe de fato quem a cunhou. No entanto, essa frase é atemporal, significativa em todos os tempos e refere-se à importância do autoconhecimento como estrutura e ponto de partida para outros conhecimentos, para a percepção da realidade, do mundo no qual vivemos. Portanto, quanto mais elevado for o nível de autoconhecimento do indivíduo, maior será sua probabilidade de promover uma auto mudança, ou seja, de modificar a si próprio e de alterar o meio no qual vive.
O autoconhecimento é primordial e desenvolvê-lo propicia um melhor manejo dos pensamentos, sentimentos e comportamentos. Sendo assim, também permite identificar crenças e transformá-las de crenças limitantes (“não consigo aprender”) para crenças fortalecedoras (“sou capaz de aprender novas habilidades”). Além disso, é um processo fundamental para o nosso desenvolvimento nas diferentes áreas de nossas vidas, visto que conhecer as habilidades, competências e aspectos que pretendemos aprimorar nos ajudam a conquistar o que desejamos, assim como nos protegem em nossas escolhas. Do mesmo modo, o conhecer-se a si mesmo favorece para que nos tornemos cada vez mais despertos, conscientes, pois autoconhecimento é autoconsciência.
Esse é um processo que ocorre naturalmente ao longo das nossas vidas através das nossas vivências. Contudo, também pode ser alcançado por meio de uma psicoterapia que favoreça ao indivíduo conhecer-se, identificar a sua essência, aceitar-se e transformar-se, conforme sinta tais necessidades. Assim, poderá administrar melhor os seus pensamentos, pois saberá especificá-los; conseguirá manejar de modo eficaz os seus sentimentos e emoções, uma vez que aprendeu a reconhecê-los; será capaz de gerenciar as suas ações e comportamentos de modo eficiente para alcançar seus objetivos, pois estará mais consciente de si mesmo. Desse modo, a psicoterapia facilita ao indivíduo um efetivo autoconhecimento e, a partir desse ponto, propicia as alterações de aspectos das próprias características que considera importantes, adquirindo novos comportamentos e/ou eliminando aqueles que concebe como inapropriados. Dessa forma, o autoconhecimento proporciona uma melhor qualidade à nossa vida pessoal e profissional.
Deve-se destacar, também, que o autoconhecimento possibilita a identificação de nossos talentos e aptidões, ajudando-nos em nossa escolha profissional, promovendo realização e satisfação em nosso trabalho. Possivelmente, desde a nossa infância, já apresentávamos habilidades e interesses relacionados a determinadas profissões e, talvez, estejamos exercendo uma delas na nossa vida profissional. Consegue recordar-se de alguns? As nossas escolhas, entretanto, não precisam ser permanentes. Muitas pessoas, mesmo trabalhando no que gostam, anos mais tarde, identificam-se com outra profissão e fazem a transição de carreira, uma vez que se mantêm conectados com sua essência, conscientes de suas mudanças.
Para melhor compreender esse processo de transformação, podemos recorrer ao filósofo pré-socrático Heráclito, que afirma que não podemos entrar duas vezes num mesmo rio, uma vez que o rio muda a cada instante, do mesmo modo que nós não seremos sequer mais a mesma pessoa, pois vamos mudando a cada momento, ao longo do tempo. Sendo assim, é interessante acompanhar nossas mudanças, uma vez que a vida favorece inovações e novas possibilidades. Então, precisamos atualizar o conhecimento de nós mesmos. E saber que o passado não necessariamente vai condicionar o nosso futuro, isto é, podemos redirecionar nossas vidas, fazer as mudanças a que almejamos e sair da “Síndrome de Gabriela”: “eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim…”
O autoconhecimento refere-se também ao conhecimento do nosso próprio corpo. Quem saberia responder, com precisão, como é o dedo mindinho do seu pé esquerdo? Como identificar com facilidade algum desconforto em seu próprio corpo? Quão conectados estamos com todo o nosso corpo? E é interessante ter a percepção de que mudanças corporais ocorrem ao longo dos anos. Sendo assim, o processo de conhecer o próprio corpo, nos seus diferentes aspectos, por exemplo, na postura corporal ou em alterações numa determinada região do corpo, por meio de autoexames, como o da mama, entre outros, auxilia, significativamente, no autoconhecimento.
O conhecer-se a si mesmo permite uma conexão maior com o nosso verdadeiro eu. A meditação, entre outras técnicas, viabiliza essa conexão, ao possibilitar observar-se internamente. Mas não é só por meio de um processo de isolamento que podemos nos autoconhecer. Existem outras formas de autoconhecimento, como as realizadas por meio das relações sociais.
No contexto social, isto é, no relacionamento com as pessoas, vamos nos conhecer melhor. Através da convivência com os outros, evidenciam-se nossos comportamentos, ações e reações, sentimentos e emoções, forma de comunicação (assertiva, amorosa, firme, agressiva, violenta etc). E, com esse feedback, vamos nos conhecendo cada vez mais e melhor. Também, ao observar como os outros se comportam, podemos ter insights dos nossos próprios comportamentos e temperamento. Desse modo, a interação social influencia diretamente no desenvolvimento do autoconhecimento.
No entanto, é bom lembrar que somente podemos modificar aquilo que conhecemos. O que podemos mudar para termos uma vida plena ou para enfrentar de modo eficaz as adversidades e desafios que a vida nos traz? Autoconhecimento também está relacionado à nossa saúde mental, à nossa capacidade em lidar com as solicitações e exigências da vida; à nossa habilidade de desenvolver estratégias de enfrentamento, assumindo nossas limitações ou solicitando apoio, quando necessário. E, também, dando o melhor de nós mesmos, colocando em prática nossas habilidades e competências adquiridas através do autoconhecimento em prol de uma vida saudável, harmoniosa e próspera.
É importante ressaltar que o conhecimento de si mesmo é um processo infinito. As novas e imprevisíveis situações da vida evidenciam uma faceta do nosso Ser. E, conforme se vão comemorando novas primaveras, obtendo-se experiências de vida, podemos acreditar que, finalmente, já nos conhecemos por inteiro. E que, portanto, nada há mais o que descobrir sobre nós mesmos. Entretanto, trata-se de um grande equívoco, pois, é importante repetir, o processo de conhecer-se é infinito. E, para os que acreditam, pode ter tido início antes da fecundação e ter continuidade após a morte – para os que creem na imortalidade e na reencarnação.
E então, quem é você? Qual é a sua história? Você se conhece mesmo?
Quais são os seus valores e como estão alinhados com as diversas áreas da sua vida? Como você se relaciona consigo próprio, com as pessoas, com a Natureza?
Dedique-se a conhecer a si mesmo! Invista em seu autoconhecimento!
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*Célia Werner é Psicóloga, com formação em Análise Transacional, Psicologia Hospitalar, Recuperação Motora e Terapia através da Dança, Hipnose. É também pós-graduada em Neurociências aplicadas e mestre em Psicologia Social. Coach, Trainer em Programação Neurolinguística, Aperfeiçoamento em Neuropsicologia, Group and Team Coaching (International Society of Neuro-Semantics)