VIAGENS, NATUREZA E A SABEDORIA QUE TUDO TEM SEU TEMPO

Eu me chamo Fernanda Braga e fui convidada pela minha colega Marcia Thimoteo a participar como colunista na plataforma Mulheres In Rio e escrever sobre aquilo que mais amo fazer, que é viajar e a oportunidade que tenho de viver em meio à natureza no sítio, na cidade de Tanguá. Lá tem porquinho, galinha, pato, codorna, cachorro e coelho. E uma infinidade de frutas como manga (espada, tommy, carlotinha, peitinho de moça), abacate, laranja, graviola, pitomba, siriguela, jaca, jabuticaba, jambo, abacaxi, uva, morango, amora, goiaba, jenipapo, cana, mamão, acerola, coco e pitanga.

Vou te contar um pouco da minha história e de como visitei 47 países, e as inúmeras experiências que tive nesses 17 anos de viajante profissional.

Quando eu era pequena queria muito morar nos Estados Unidos, deve ser por conta da propaganda nos filmes. Mas meu pai até chorava, quando falava isso e dizia que lá não era um lugar bom para mim, por conta do preconceito racial.

Depois tive um namorado descendente de japonês, e mais uma vez ele disse que eu não deveria ter esperanças, pois sansei só se casava com japonês. Depois meu pai se arrependeu de ter falado isso, mas o meu namorado hoje em dia está lá no Japão com a japonesa dele. 

Quem nos ama sempre vai querer nos proteger, sempre.

Continuei a minha vida com o sonho de um dia morar fora, não importava onde fosse. Então no ano de 2003 conheci o meu companheiro de viagem, Augusto Braga, que me despertou para as viagens. Nos primeiros anos viajamos pelo Brasil e depois começamos pela América Latina. Moramos um ano em Buenos Aires, 1 (um) mês no Chile. Depois conhecemos a Europa quase toda e visitamos também o Marrocos.

No total são 47 países e de acordo com um aplicativo já são 19% dos 252 países e 447 cidades visitadas, algumas cidades não apareceram no aplicativo, então esse número é maior. 

Hoje quero falar com vocês a importância do tempo, Deus é justo, pois ele dá 24 horas iguais para todo mundo e você vai colher o que plantou como todo mundo.

Algumas pessoas reclamam que 24 horas é pouco para realizar tudo o que necessitam, outras deixam passar e quando se dão conta lá se foram 24 horas gastas com absolutamente nada.

O tempo é um presente valioso que precisamos saber aproveitar. Se você ao viajar acorda por volta de meio dia, você acaba de perder metade do dia em um destino fantástico dormindo. Seja sincero, para dormir assim, seria melhor ter ficado em casa. Um dia você acorda mais tarde, não tem problema, pois a rotina de viagem realmente cansa. E se você tiver algum problema de saúde, às vezes acordar a hora que for em outro lugar que não seja a sua cama, é uma dádiva.

Eu sempre gostei de fazer cursos de temas diversos, mesmo sabendo que naquele momento não teria uso prático, mas impressionante que depois de em tempo tudo se encaixa. 

Steve Jobs fez curso de caligrafia na faculdade, porque ele assistia algumas aulas como ouvinte e naquele momento parecia não ser útil. Aprendeu sobre tipografia, espaçamento e coisas afins. Tudo isso foi de grande valor e revolucionou a informática quando ele junto com seu amigo Steve Wozniak montaram a Apple. Jobs contou que sem esse sistema operacional da Apple ninguém teria uma tipografia bonita, com vários tamanhos e fontes com espaço proporcional. Palavras dele. “E já que o Windows apenas copiou o Mac, provavelmente nenhuma pessoa as teria”.

Cada coisa no seu tempo. Eu lembro quando fui cuidar do meu pai no estágio de câncer avançado, percebi como o tempo é valioso. Minha irmã mais velha tinha acabado de ter neném e minha irmã mais nova estava envolvida com os preparativos do casamento. E minha mãe já tinha casado novamente. Então fui cuidar dele quando precisou mais de mim. Viver ao lado de uma pessoa que está se despedindo da vida é um aprendizado e tanto. Você nunca mais vai ficar aborrecido com pequenas coisas, vai valorizar estar presente de verdade, vai ouvir melhor e se colocar sinceramente no lugar da outra pessoa. Vai perdoar com mais facilidade e vai querer ver sempre o que de bom o próximo tem a te oferecer. Raiva para quê? Faz mal para o fígado. Se não for importante, se não vai alterar a sua vida, deixa para lá, e não fique remoendo, pois isso também vai te fazer mal. 

Imagina se hoje fosse o último dia da sua vida, como você gostaria de ser lembrado pelas pessoas mais próximas? O que as pessoas perderiam? O que você deixaria para a humanidade? Sei que são perguntas fortes, mas só assim você vai entender que tipo de vida você está levando e se ela tem sentindo e propósito.

Eu viajei durante muitos anos, mas teve uma época que eu queria ir à praia e não podia, meu pai dizia que depois eu poderia ir à praia. Como tudo tem o seu tempo, depois eu morei em frente ao mar, por 5 (cinco) anos em Arraial do Cabo. Mas se eu tivesse rejeitado o privilégio de cuidar do meu pai, tudo isso não teria valor, pois se no momento que ele mais precisou de mim eu não estivesse lá, provavelmente eu não apreciaria a beleza do mar, pois estaria muito arrependida e com remorso.

Às vezes olhamos as coisas da nossa perspectiva, mas o mundo é muito maior e não gira ao nosso redor. Quem mora na cidade provavelmente não gosta quando chove. Como diz Adriana Calcanhoto “cariocas não gostam de dias nublados”. 

Mas depois que fui morar no sítio, sim depois de todas essas viagens, eu tenho o privilégio de morar na roça. Como dizia Elis Regina “ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela, só para ver o sol nascer”. 

Só depois de plantar uma semente eu vi a importância da chuva, como as plantas gostam quando ela cai. Elas agradecem, crescem, florescem, dão seus frutos, ficam lindas, parecem que estão sorrindo. Deus é perfeito.