SOMOS PRODUTOS DE MUDANÇAS

Por Saskia Radino

 

Uma reflexão sobre os fatos marcantes da minha vida pessoal, em décadas, e os eventos sociais, políticos e econômicos das respectivas épocas.

Sou da geração “Baby Boom”. Anos 50 quando o mundo se recuperava da Segunda Grande Guerra Mundial.

O primeiro olhar sobre essa época é de completa dependência familiar. O crescimento controlado: Nutrição, educação, obediência e diversão sob supervisão. De zero a dez anos seria pouco provável definir qual seria meu futuro. O mundo transformando-se com o início da Guerra Fria, com as modificações dos meios de comunicação, a transmissão dos primeiros programas de TV, as mudanças dos padrões de beleza, os avanços científicos, a primeira nave indo para fora da órbita terrestre…. e as crianças no pequeno mundinho fechado de escutar, obedecer, estudar, comer, brincar, dormir.

Eu já havia decidido nessa fase que iria viajar o mundo, aprender outros idiomas, conhecer novas pessoas e suas culturas.

Na década seguinte dos anos 60 aos 70, as maiores transformações de vida aconteceram. Mudanças na anatomia do próprio corpo, mudanças de escola, amizades, vestuário, costumes, as primeiras paixões, as decepções. O amor. A carreira. As primeiras escolhas. Você se torna gente. E o mundo lá fora continua mudando.

Os Anos Dourados. Os primeiros bailes (sempre acompanhado do pai), a Jovem Guarda sacode a cabeleira e a Bossa Nova espalha poesia e romantismo. 

De 70 a 80, tudo muda. A profusão de fatos marcantes pessoais e mundiais em uma década. Os dias não só de 24 horas. Universidade, casamento, cursos, interação e… a primeira conquista. Uma bolsa de estudos para a França.

O mundo se descortina de maneira avassaladora. Novos rostos, costumes, experiências, aprendizados e na volta ao Brasil para preencher a vida de sensações permanentes e únicas: a maternidade.

E tudo muda em mim e na minha visão de mundo.

A responsabilidade de ser mãe e de continuar trilhando novas descobertas.

A década dos grandes movimentos.

A era hippie, a revolução sexual, a pílula, novos sons, Michael Jackson, clássicos do cinema internacional, o cinema novo, fim da guerra no Vietnam, minha busca de novos caminhos, saída do magistério para o mundo corporativo para poder oferecer melhores condições a quem de mim dependia. Crescemos juntas nessa caminhada.

Nos esportes o Brasil se inseria na Fórmula 1 com Fittipaldi, surge a Apple, TV em  cores, novas guerras no mundo: Nicarágua, Afeganistão, Líbano e as mudanças no plano pessoal continuam com novos desafios, novos estudos, crescimento e dor.

E a primeira mulher, Margareth Thatcher, assume o cargo de Primeira-Ministra  da Inglaterra. Motivação para prosseguir na busca do meu espaço sem os Beatles que se desintegraram como grupo deixando um legado musical que nos embala até hoje.

Decisões difíceis a serem tomadas. Como enfrentar a distância entre a busca do crescimento profissional e a vida de mulher, mãe, esposa?

Rompendo a barreira do comodismo e do preconceito.

Encarando novos desafios.

Nova partida em busca de novos conhecimentos na Italia, rupturas e descobertas.

De agora em diante. Um recomeço.

Conflitos pessoais, familiares e no mundo novas guerras, golpes, ameaças.

A tecnologia avança e incrementa as comunicações: Windows, Macs, CDs.

Nova Constituição no Brasil. Tempos novos.  Encontros e desencontros.

Uma mulher na Inglaterra vive um conto de fadas casando-se com um príncipe e logo volta à realidade de muitas, a separação dolorosa de um amor não correspondido. E mais um símbolo feminino, Madonna, dos anos 80, rompe códigos, conceitos e preconceitos abordando temas  como feminismo, gravidez na adolescência e religião.

O movimento new wave influenciou a música, cultura, moda, comportamento, cinema e artes plásticas. A moda foi marcada pelo exagero de formas e cores.

A Índia tinha Índira Gandhi como Primeira Ministra e a Inglaterra continuava com a Rainha Elizabeth, ambas com destaque na política mundial.

Entre idas e vindas, os anos 90 se instalam em nossas vidas trazendo o fim da União Soviética e da Guerra Fria.

No que deveria ter sido uma  experiência de trabalho na Itália, vivenciei o início da Guerra do Golfo, o que provocou o retorno ao Brasil para retomada à busca de novas empreitadas profissionais.

Filha crescendo e já decidindo seus caminhos. Novos rumos e caminhos sendo trilhados.

Apesar da prosperidade em várias nações, numa década considerada como “tempos prósperos”, a sombra da AIDS ofusca a expectativa dos jovens que experimentam a liberdade sexual tão almejada.

Acreditamos que poderíamos escolher um líder novo na política que nos traria o crescimento econômico e social que o país merecia. Surpreendidos com um confisco das economias fomos obrigados a nos reinventar, mais uma vez.

E apesar dos dissabores, a tecnologia se impulsiona e possibilita melhores conexões. Computadores mais rápidos, celulares, jogos eletrônicos.  Clonagem da ovelha Dolly.  Começo do Projeto Genoma Humano. Identificação de DNA.

A filha escolhe seu próprio caminho profissional desenvolvendo suas aptidões aprimorando seus conhecimentos teóricos e práticos.

E mais uma mulher se destaca na política: Benazir Bhutto foi duas vezes Primeira Ministra do Paquistão, tornando-se a primeira mulher a ocupar um cargo de chefe de governo de um estado muçulmano moderno.

Mandela torna-se o presidente da África do Sul, nos dando exemplo de perseverança e resiliência.

A moda passa, para o público feminino, por uma grande transformação na metade da década, ganhando referências de épocas anteriores. Dos anos 60, as roupas com cores claras, tiaras, cabelos curtos, com franjas, e até o famoso corte “Joãozinho”. 

Já dos anos 70, foram os calçados desproporcionais: plataformas e tamancos fechados de couro sintético e madeira, vestidos longos e também as famosas gargantilhas e tatuagens temporárias.

Decidida a fazer a diferença mais uma vez, aceito o desafio de me estabelecer como empresária, com meu marido. Busco no SEBRAE, CACEX, Associação Comercial e outras fontes, as informações necessárias para me preparar para estar apta a conduzir uma empresa. Toda aprendizagem é válida e deve ser contínua. O outro lado do balcão não é fácil. Acertos e desacertos. Ganhos e perdas. Vitórias e derrotas. E o mundo continua mudando. Assim como eu.

Chegam os anos 2.000. Nova era?

Novas guerras e conflitos eclodem no Oriente médio. Novos políticos assumem o poder na América Latina, inclusive no Brasil. Obama é eleito, Ângela Merkel dirige a Alemanha, Cristina Kirchner a Argentina.

 O Euro torna-se a moeda da Comunidade Comum Europeia favorecendo as relações comerciais entre países membros.

Tsunamis, furacões, terremotos, ciclones tornam-se mais frequentes, demonstrando que as modificações climáticas precisam ser levadas à sério pelos habitantes desse planeta que no final dessa década já começaram a conviver com as novas pandemias.

Novas décadas e o advento da internet se consolida como um catalisador de novas forma de comunicação. As mídias sociais modificam a maneira como as pessoas interagem e se relacionam. Até a religião católica experimenta mudanças na condução de novo Papa ao Vaticano. E as mulheres dessas últimas  décadas, qual o papel que exerceram nessas mudanças?

Será  que a mulher moderna vem esquecendo as dificuldades enfrentadas pelas mulheres, em especial àquelas que romperam as barreiras do comodismo, do preconceito, e conquistaram para todas nós, direitos que hoje temos e nem sempre valorizamos: da liberdade, do direito ao voto, ao divórcio, à educação e trabalho e que no passado lutaram por esses direitos que usufruímos hoje?

O direito de ter ou dar opinião, de usar a moda mais confortável, como Coco Chanel implementou com o uso das calças compridas e extermínio dos espartilhos, de fumar ou  beber em público, de sair sozinha sem a companhia do pai, irmão ou marido, de cortar os cabelos curtos ou  tingi-los de vermelho para não ser confundida com “mulheres de vida fácil?

Dos 20 aos 68 anos tingi meus cabelos de vermelho porque me sentia livre, arrojada, dona do meu corpo e de minha vida, mesmo sendo uma mulher que sempre respeitou as convenções e quebrou algumas.

Hoje, quase aos setenta assumi meus cabelos grisalhos pela mesma liberdade de escolha, de conforto, de aceitação de uma plenitude pelo que conquistei e ainda me disponho a conquistar.

Que venham novas décadas, novos desafios, novos acontecimentos, novos tempos.

Arriba, aqui vou eu.

 

*Saskia Radino, nascida na Bahia e adotada pelo Rio. Barioca desde 1977.Desde sempre, nas minhas diversas atividades como professora de idiomas, secretária executiva, gerente de projeto e agente de turismo, a cultura permeou minha vida..

Quando a oportunidade de me lançar como empreendedora surgiu ainda não existiam as ferramentas atuais para melhorar minhas habilidades.

Fiz cursos, li muitos livros, fui a todo tipo de evento: eventos sociais, culturais, cívicos, religiosos e de negócios.

Em 1996 criei a Organizing Empresa de Eventos e Promoções que tem como direcionamento planejamento, marketing, comercialização e produção de eventos.

Focados em Cultura, inclusão social e educação.

O momento que vivenciamos é a chance de unirmos a experiência dos que foram arrojados e venceram alguns desafios com a nova onda de tecnologia e o vigor dos jovens empreendedores.

Juntos podemos ser mais fortes.

Saskia Radino

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