POR QUE PRECISO INOVAR ?

Por: Eliza Mihaguti

Vivemos hoje no “chamado” mundo VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity), ou seja, vivemos em um mundo Volátil, que muda a todo momento; Incerto, não sabemos o que virá pela frente, ainda mais agora com a pandemia; Complexo, são tantas informações juntas, tantas variáveis, que as pessoas não conseguem processá-las; e Ambíguo, as interpretações podem ser diferentes para a mesma situação, que pode ser influenciada por histórias de vida diferentes, por culturas diferentes.

Diante deste ambiente, somos forçados a inovar, para que possamos estar presentes, para que possamos sobreviver no mundo dos negócios, para que possamos nos diferenciar, e isso se refere não apenas às organizações, mas também às pessoas, ao pequeno, ao médio e ao microempreendedor. 

Quando pensamos nisso, podemos imaginar que as grandes empresas com o seu “poder de fogo” terão mais condições de se inovar, com seu grande número de funcionários, seus centros de pesquisa, seus pesquisadores.

Mas a verdade é que o pequeno empreendedor tem condições diferenciadas para se inovar, pois a sua estrutura enxuta permite que ele se adapte com muito mais rapidez a qualquer mudança. E a velocidade é fundamental nos tempos atuais, no mundo VUCA.

Algumas pessoas podem se perguntar, mas preciso fazer alguma invenção, inovar é inventar algo novo ?

Este questionamento é muito bem vindo, pois esta conceituação entre invenção e inovação, este entendimento, pode trazer oportunidades ao empreendedor, para que ele entenda também o seu papel na sociedade, e a sua capacidade de empreender.

Invenção é gerar uma ideia, um modelo, um processo ou uma solução que não existia até então. É realmente descobrir algo original, passível de patentear. Mas essa invenção não necessariamente gera retorno financeiro. Algumas invenções são até bizarras, como por exemplo a “the wake-up machine” de Simone Giertz.

Simone Giertz, é uma inventora sueca, que adora robótica, e tem dificuldades para acordar, então resolveu criar um despertador, uma “máquina”, uma mão mecânica, que fica na cabeceira de sua cama e lhe dá tapas na hora de despertar, denominada “máquina de despertar”, bizarro não ? até engraçado… pois então; esta é uma invenção, mas provavelmente poucos comprariam esta máquina, ou seja, não teria retorno financeiro. Simone é bastante criativa e adora robótica, mas esta invenção não seria considerada uma inovação.

Outro exemplo clássico é o post-it. A empresa 3M sempre foi conhecida por incentivar a inovação no seu ambiente de trabalho, o funcionário que criasse algo novo que desse retorno à empresa, seria o “dono” desta unidade tendo parte da lucratividade com a venda deste produto. 

A 3M sempre foi muito forte na venda de fitas adesivas, então em 1968, um de seus pesquisadores, Spencer Ferguson Silver, inventou uma nova cola, mas que não tinha uma aderência tão forte. Ele ficou durante cinco anos procurando uma utilidade para o seu invento, sem sucesso. Vejam, uma invenção, mas que não dava retorno financeiro. Até que um colega Art Fry, que no final foi considerado o inventor do post-it, achou um problema para a solução de Spencer. 

Fry cantava no coral da igreja e vivia com problemas pois marcava as partituras e livros de cânticos com pedaços de papel que sempre caiam, assim teve a ideia de usar essa cola para os seus marcadores. Também para testar a ideia, ele distribuiu na 3M esses marcadores adesivos, e logo se viu falando “Eureka”. O próprio Fry foi quem inventou a máquina para montar e cortar os blocos de post-it que temos hoje.

A partir daí a invenção de Spencer passa a ser uma inovação, graças ao amigo Art Fry, que achou um “problema” para uma “solução” que já existia.

Uma das universidades conhecidas por buscar boas invenções, soluções, que não sabem qual problema podem resolver, ou não sabem como torná-las um negócio, é a universidade australiana Bond University.

Por isso, uma boa técnica para inovar  é você não ter medo de compartilhar as suas ideias, pois você pode estar pensando em inventar algo mas não sabe como inovar, e a outra pessoa pode saber como inovar mas não sabe inventar.

Portanto, creio que já entenderam o que é Inovação correto? Inovação é fazer algo novo,  fazer algo de forma diferente (otimizando o tempo, otimizando recursos), ou lançando um produto/serviço novo,ou um novo modelo de negócios, porém que tenha um retorno financeiro. 

“Concluindo, na invenção aplica-se verba para gerar ideias, para gerar novos produtos; na inovação, gera-se ideias para gerar novos recursos financeiros, novos impactos.” (citado no curso do MIT por Sarma, Sanjay 2019).

Um dos influenciadores dos conceitos de inovação, considerado o “pai da inovação” por muitos, foi o economista austríaco e professor de Harvard, Joseph Schumpeter (1883–1950). Ele classificou as inovações de acordo com seu grau de novidade em três tipos: a radical, completamente diferente de qualquer uma anterior, como o smartphone da Apple; a incremental, que é uma melhoria de algo que já existe, exemplo, as melhorias nas câmeras e baterias desses smartphones; e ainda as revoluções tecnológicas, trazidas por tecnologias aplicadas aos serviços ou produtos, como o streaming de vídeo que trouxe um dinamismo totalmente diferente na indústria do entretenimento.

O mesmo Schumpeter (1950) definiu que o empreendedor é  a pessoa capaz de inovar, ou seja, dentro do que já foi citado acima, aquela pessoa que consegue gerar retorno financeiro com uma nova ideia ou tornar uma invenção rentável.  Essas pessoas eram as responsáveis pelas grandes mudanças na economia.

Ele dizia que o empreendedorismo é algo desenvolvido por pessoas versáteis, com habilidades diversas e diferenciadas, sendo capazes de gerir novos negócios, com novas ideias, impactando a sociedade com novos processos.

Schumpeter ainda cunhou o termo destruição criativa explicando justamente que estes empreendedores eram responsáveis por criar novos modelos de negócios, novos produtos “destruindo” antigas empresas e modelos de negócios ultrapassados. E que estas novas economias surgiam em ciclos, sendo o empreendedor o grande responsável por este dinamismo e mudanças, ele seria a grande “mola propulsora” dessas mudanças, levando ao crescimento econômico, em espiral, a longo prazo.

A este empreendedor, Schumpeter também concedeu o papel de criar um ambiente competitivo, onde monopólios seriam destruídos, sendo portanto este processo de destruição criativa, um dos centros do capitalismo, de acordo com o autor..

Portanto, queridas empreendedoras, vejam como o papel de vocês tem alta relevância na economia de um país, na economia do mundo. 

O empreendedor com a sua versatilidade é o sujeito que consegue inovar e mudar os ciclos da economia. De acordo com a Fundação Estudar “entender as inovações ajuda a estudar as transformações no mercado e tudo o que podem influenciar — do treinamento dos funcionários ao comportamento dos consumidores.” ou seja, ao observamos o que nos cerca, seja um novo modelo de negócios, uma tecnologia ou uma invenção; e buscarmos identificar realmente do que se trata, e o quanto estes fatores podem impactar o nosso negócio, ou se algum deles pode ser o nosso novo negócio, colocará em prática essa “mola propulsora” do empreendedor. 

Pois, como diz Schumpeter, as inovações criam ciclos que “destroem” os que não a acompanharem, por outro lado, traz oportunidades a quem conseguir “surfar essa onda”, adquirindo uma vantagem competitiva, podendo significar a sobrevivência de uma empresa.

É por isso, que hoje, grandes empresas correm para se inovar, seja pelo intraempreendedorismo, pelo open innovation e parceria com startups, pois já entenderam que este ser, o “empreendedor”, é que tem a capacidade de inovar, de “mudar o jogo” mantendo a empresa viva, sem ser destruída pela “destruição criativa”.

Hoje vemos no Brasil, um boom do empreendedorismo, seja por necessidade, seja pelo espírito criativo do nosso povo, e a pandemia acelerou ainda mais este cenário. Em 2020 o crescimento de MEI (microempreendedor individual) foi de 13,23%, de acordo com o Portal do Empreendedor.

Temos então uma concorrência cada vez maior, mas temos também um momento de muitas oportunidades, pois as grandes empresas que não tem a velocidade das pequenas empresas estão em busca de inovações, que virão de empresas menores. Estas grandes empresas estão dispostas a adquirir ou investir em um negócio que lhe traga vantagem competitiva. Investidores ávidos por resultados estão observando o mercado e como no programa Shark Tanks são tubarões querendo investir em negócios promissores.

Portanto, empreendedora , acredite, observe, inove, identifique as inovações, o diferencial do seu negócio, e sem medo; siga em frente, pois o empreendedor é quem consegue mudar a dinâmica da economia. 

Quer inovar ? Estarei trazendo conteúdos sobre tecnologias, criatividade, tendências no trabalho, tendências de consumo, para que você possa estar antenado, criando e inovando.

Até a próxima.

 ELIZA HITOMI FUKUSHIGUE MIHAGUTI: Executiva por 22 anos em grandes empresas do segmento corporativo, ocupando cargos de CIO (Chief Information Officer), CTO (Chief Technology Officer) e executiva de Serviços Compartilhados dentre outros. Carreira pautada pela inovação e atuação em transformação digital, aplicando métodos colaborativos como Design Thinking, Design Sprint e métodos ágeis. Especialista em planejamento estratégico, modelagem de negócios, negociação de contratos, licitações, procurement e otimização de processos. Mentora certificada pela ABMEN – Associação Brasileira de Mentores de Negócios. Mestre em Administração de Empresas pela FGV, Master Business in Petroleum pela COPPE/UFRJ, participante dos programas: HarvardMentor, Radical Innovation do MIT, Gestão Executiva da Amana Key, Gestão de Pessoas pela Fundação Dom Cabral, Singularity University Executive Program, London Business School Interchange Program, Kellog University IT Executive Program. Mentora voluntária dos programas Enpathos, apoio a pequenos empreendedores do sul da Bahia, e do InovaSP, programa de apoio à startups inovadoras da cidade de São Paulo. 

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