MULHERES REAIS

Por Luna Magalhães

Eu me chamo Luna Magalhães, sou professora, poeta e ativista social.

Dois motivos me levaram a escrever esse texto: O primeiro foi para derrubar o meu ego, em prol de uma nova consciência que tenho buscado adquirir na vida, o segundo pela importância da mensagem a ser passada:

A (O)pressão da estética feminina e seus desdobramentos.

“O seu corpo não está muito “alarmante” e de roupa dá para “disfaçar” , porque antes vc era sarada” (essa é a fala que eu escuto de muitos), porém manifestações de outras pessoas me tocaram mais profundamente, especialmente por terem sido ditas em um ambiente de trabalho, onde muitas observações poderiam ter sido pautas, menos o meu corpo.

Lembro bem das inúmeras vezes em que escutei comentários criticando amigas que tinham engordado, ao invés de mencionarem o trabalho delas, que é incrível! Isso me incomodava, mas agora eu senti na pele.

A caminhada é longa e ainda falta muito, mas é fato que o mundo está em constante transformação, num movimento crescente de empoderamento feminino, com novas leis, posturas e programas que dão suporte as mulheres e isso é maravilhoso! Saber que “podemos” morar ou viajar sozinhas, cuidar das nossas vidas, “escolher” nossas profissões, se queremos ou não casar,  se queremos ou não ter filhos, sempre agindo no sentido de uma vida que é libertadora.

Por outro lado, ainda nos sentimos muito vulneráveis e incapazes, como se a gente não pertencesse ao padrão de estética ideal e admirado:  dos corpos magros e sarados, dos cabelos lisos e hidratados, das maquiagens perfeitas e sem olheiras, das unhas bem feitas, da depilação em dia, dos piercings e tatuagens estilosas, dos seios durinhos e volumosos, da pele bronzeada e sem varizes, das sobrancelhas bem desenhadas que levantam o “olhar” e blá blá blá… canso só de pensar em como tudo isso pode ser inalcançável ou as custas de um preço alto.

E quando não somos mais tão jovens? “Temos nosso próprio tempo” Lutamos contra a idade, como se fosse possível não envelhecer, mas é tempo perdido, porque envelhecer faz parte.

As vezes dá aquela dorzinha nas costas qdo precisamos ficar muito tempo em pé e a gente olha aqueles saltos elegantérrimos passando na nossa frente, sustentando pernas esguias num perfeito equilíbrio do andar, enquanto tudo que a gente quer é enfiar uma rasteira no pé😩 como assim?A gente se sente horrível!

E tem que namorar, tem que sentir prazer, tem que estar com sexo em dia, tem que isso, tem que aquilo… E a gravidez? Porque parir é um processo que dura nove meses, não é somente o parto em si, mas todos os desdobramentos dele. A gente também amamenta, cuida dos filhos, menstrua, sente cólica, tem TPM, cuida da casa, trabalha fora, precisa ganhar dinheiro, ser independente e cuidar da família. E depois tem o climatério, a menopausa e todas as consequências naturais que essas condições trazem para o cotidiano da mulher.

Aí chega a estação mais quente do ano e com ela a famosa doutrina do “projeto verão”. Aquele em que fica todo mundo meio neurótico com as celulites extras e corre pras academias pra não passar vergonha na praia ou na piscina. E, de fato, tudo isso tem se tornado assustador para muitos, especialmente em tempos de pandemia.

 

Não escrevi tudo isso pra criticar quem faz atividades físicas e cuida da beleza estética do próprio corpo, pelo contrário, exercício e alimentação são fundamentais para envelhecermos de forma saudável e acho até que um certo grau de insatisfação é importante para gente se sentir motivado a não acomodar numa vida sedentária, especialmente diante das dores e desconfortos que a idade, inevitavelmente, nos traz.

Mas, todo cuidado é importante, pois existe uma linha muito tênue entre uma ditadura da beleza que nos aprisiona e uma vida real, feliz e saudável. A indústria da moda, dos cosméticos e das mídias se alimentam e ganham muito com as guerras que travamos com a nossa autoestima. A vaidade do ego é cruel e pode trazer ilusões embutidas no desejo de compensar faltas.

A vergonha de se aceitar, a ponto de perder o prazer de viver e se esconder, especialmente diante de tantos exemplos cheios de filtros e “perfeições” nas mídias, pode causar transtornos psíquicos  e até alimentares. Assim como a acomodação na ausência total de atividade física, que para além do corpo nos alimenta a alma, também pode ser igualmente prejudicial.

Essa é uma discussão longa e muito significativa, precisamos estar alertas para que esse “empoderamento” feminino não seja somente da boca pra fora, na teoria, e passe a ser vivido de fato por cada uma de nós, de dentro pra fora. Porque essa pressão sobre a mulher é inaceitável!

MULHERES, nós somos maravilhosamente REAIS🌺 Precisamos alimentar os nossos corações, ter mais carinho e nunca desistir da gente.

 

Luna Magalhãess é escritora, professora, poeta, compositora, ativista social e fundadora do projeto Versos & Vozes.

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Luna Magalhães

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