DE AGORA EM DIANTE

Quando a partida se dá de repente, a dor de quem fica é o vazio do presente com um passado de lembranças e um futuro de ausências.

O olhar perdido vendo a vida sem sentido, sem o fio condutor da esperança.

Cada objeto, cada som, cada cheiro lembra quem não mais repartirá seu calor entre os braços e abraços de quem ficou.

Onde arranjar coragem, força, fé?

Como fazer um esforço para seguir em frente?

Como planejar os dias , as horas, os minutos?

O amanhã não faz sentido.

Mas, há que respirar, chorar em soluços profundos, gritar aos quatro mundos a dor de seu peito ferido.

Levantar a cabeça, reconfigurar a alma, continuar o caminho que se apresenta cada instante.

Mesmo só estará sempre acompanhado.

E quando a partida se dá lentamente, quando a dor de contemplar a decaída do corpo e da mente, quando o processo se dá diante dos olhos e dos ombros de quem luta para que não se vá pelo amor a quem  dedica cada instante e reza para que parta sem sua dor percebida.

Então o esperado acontece.

O corpo cansado não resistiu.

Como não chorar o inevitável, como não sentir alívio das noites não dormidas, como não sentir o silêncio de seus suspiros.

A vida tem que seguir, cuidar da alma, do corpo, das mudanças do imprevisível.

Desfazer-se de seus objetos tão usados. Procurar lembrar o som de sua voz que há tempos emudeceu, seu toque carinhoso, seus gostos, suas manias.

Está só.

E essa solidão lhe causa uma dor no peito tão profunda que provoca sua partida ao encontro de seu amor.

Nada levou consigo, mas muito deixou entre nós.

Não houve tempo de despedidas, flores. Só saudades.

Essas reflexões não são imaginativas.

Um bom amigo que vê sua amada não retornar pois a Covid a levou.

E o amigo que o Alzheimer consumiu suas forças físicas e mentais e foi cuidado por seu amor que de tanto amar, o amor a levou.

De agora em diante, ame seu amor, cuide do amor, se ame e viva intensamente como se não houvesse amanhã.

Minha homenagem à Lili e à Alice e Ruy.