MULHERES NA LUTA

Por : Leila Meireles

Sabemos que as mulheres sempre tiveram papel importante na preservação da espécie através dos cuidados com a prole e que muitas delas aprenderam e dominaram técnicas de defesa para isso. Os homens caçavam para alimentar a prole, enquanto as mulheres cuidavam do fogo e da segurança dos que ali ficavam.

 

Na China, mesmo que tenham uma cultura tradicionalmente patriarcal, o envolvimento de mulheres na prática das artes marciais já existia desde o início da sociedade. No livro do Lorde Shang, escrito por Shang Yang, podemos ver como era a divisão do exército em três unidades: homens fortes – serviam na primeira linha de defesa contra o inimigo; mulheres fortes – defendiam as fortificações e construíam armadilhas; fracos e idosos de todos os gêneros – controlavam a cadeia de mantimentos do exército. O que demonstra que na antiguidade a mulher ocupava cargos de muita importância na defesa e segurança da sociedade. Infelizmente, o mundo contemporâneo não incentivou que a mulher exercesse seu direito de defesa.

 

No Brasil, em 1941, o Conselho Nacional de Desportos criou o Decreto Lei nº 3199 que, no artigo nº 54, dizia que as mulheres não poderiam praticar esportes “incompatíveis com sua natureza”. O Estado controlava corpos femininos para que não participassem da prática de vários esportes, entre eles, lutas de qualquer natureza. Assim foi até 1979. Podemos afirmar que o impacto desse decreto é visto até os dias de hoje, afinal  fora retirado, de praticamente duas gerações de mulheres, um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito de se defender. Lê-se na Declaração Universal dos Direitos Humanos, Art III: “Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”.

 

O ambiente de artes marciais ainda é predominantemente masculino. Nos tatames e dojos não encontramos fotos de Mestres mulheres, apesar de terem existido mulheres que dominaram técnicas como o Wing Chun (criado pela Monja Ng Mui no Templo da Garça Branca na montanha Tai Leung, região do Sul da China, durante a Dinastia Ching, por volta de 1733), o Wing Chun ficou famoso através do Grande Mestre Ip Man, mestre de Bruce Lee. Os padrões impostos pela cultura de que “menina não faz luta”, “menina faz balé”, entre outros, também contribuem para esse percentual mínimo de mulheres que procuram uma defesa pessoal, quando podemos sim fazer o que quisermos fazer! Podemos dançar, podemos lutar e podemos nos defender. A procura de turmas de luta exclusivas para mulheres também aponta para esse desconforto da mulher nos tatames, mesmo que na realidade as turmas mistas sejam muito mais eficientes para a mulher, pois ela precisa treinar com todo e qualquer tipo de possível agressor. Estatisticamente, entre ambos os gêneros, homens são uma maior ameaça à mulher. Logo, treinar com homens faz com que a mulher aprenda a se defender deles em situações de ameaça e perigo.

 

No caso do Krav Magá (defesa pessoal criada por Imi Lichtenfeld para o Exército Israelense e levada por ele para o mundo civel com o objetivo de que todo e qualquer cidadão possa se defender), é necessário que a mulher se acostume com diversos tipos físicos, pois nunca se sabe o que as espera em um caso de agressão. Nessa técnica não há competições. Não é um esporte. Seu único propósito é a defesa pessoal. Com o aprendizado do Krav Magá, a mulher consegue se livrar de situações de violência desde a famosa pegada “inocente” e inconveniente no braço até uma tentativa de estupro. O conhecimento de uma técnica de defesa pessoal é fundamental para consolidar um empoderamento feminino que vai além da luta por direitos de igualdade, visando a sobrevivência antes de tudo.



Precisamos estar preparadas intelectualmente e fisicamente para conquistar nossos objetivos e garantir a nossa integridade física. Não podemos nos deixar levar por discursos conservadores e retrógrados que afirmam que “luta é coisa de homem”. Sejamos persistentes e inteligentes para nos livrarmos de preconceitos estabelecidos por uma cultura que nos manteve em uma falsa redoma de proteção enquanto nos colocava pouco a pouco na posição de vítimas em potencial. Luta é coisa de ser humano.

 

No Brasil, temos a Federação Sulamericana de Krav Magá, fundada pelo Grão Mestre Kobi Lichtenstein (aluno direto de Imi – fundador do Krav Magá – e que recebeu desse, a missão de trazer para a América do Sul essa técnica de defesa pessoal). A Federação está presente em quase todos os estados brasileiros, além de em outros 4 países das Américas e recentemente em Portugal. Com cerca de 250 instrutores formados, somente 11 mulheres fazem parte do quadro. Temos apenas uma aluna faixa preta, conquistada  no ano de 2019, sendo a primeira mulher faixa preta formada pela Federação Sul Americana de Krav Magá em 30 anos de existência. Os números não mentem e precisamos realmente pensar sobre isso. O Krav Magá é uma técnica e uma oportunidade de conhecimento que pode salvar muitas vidas femininas. Mais que um direito, é um dever sabermos nos defender. Mesmo que o certo seja não sofrermos violência de qualquer ordem, sabemos que a realidade da mulher está longe de ser essa.

 

Deixo aqui a reflexão de Madame Chiang Kai-shek, ex-primeira dama chinesa de grande notoriedade política (1948 a 1975): “Nós escrevemos o nosso próprio destino; nós nos tornamos aquilo que fazemos”

 

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*Leila Meireles – Formada em Comunicação Social, Produtora Cultural e de Eventos. Gerente e Sócia da Bahad Eight Escola de Lutas. Apaixonada por dança, teatro e artes visuais. Mãe de 5 filhos e alguns agregados, tenho 51 anos, pisciana com ascendente em gêmeos e lua em Leão!

Leila Meireles

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