JÁ PAROU PARA CUIDAR DE VOCÊ HOJE?

Por Célia Werner

Há cerca de 17 anos, fiz um curso de empreendedorismo no SEBRAE, que se chamava EMPRETEC, e consistia em nove dias seguidos de aulas teóricas e práticas sobre empreendedorismo. Tal curso foi elaborado pela ONU (Organização das Nações Unidas) e aplicado em muitos países.  

O objetivo do curso era incentivar os participantes a abrir uma empresa e colocá-la em funcionamento ainda durante o curso, a fim de que fossem aprimorados os atributos relevantes dos alunos, que foram instruídos em aspectos importantes para colocar em prática a realização da empresa. Entretanto, teria que ser em atividade que ainda não se tivesse experiência de trabalho anterior. Até poderia ter uma formação na área em que se iria abrir a empresa, desde que ainda não a tivesse exercido. Existia a possibilidade de se fazer a empresa individualmente, em dupla e/ou com mais de duas pessoas. Não lembro exatamente qual era o número máximo de pessoas por equipe.

Apesar de ter recebido proposta de colegas do grupo para montar a empresa em dupla, decidi fazê-la individualmente. Seria uma oportunidade de conhecer meus próprios aspectos favoráveis (competências e habilidades) e os que precisaria melhorar, enquanto empreendedora. Seria um “encontro” comigo mesma, com uma parte desconhecida do meu ser. Este era também um dos objetivos: conhecer mais profundamente a mim mesma.

O próximo passo seria escolher em que trabalharia. Foi então que me recordei de uma formação na Escola de Dança Angel Viana, em Recuperação Motora e Terapia Através da Dança. Nessa formação, tive diversas aulas de técnicas corporais, por exemplo, aula de Zen Shiatsu, Técnica de Alexander, Feldenkrais, entre outras. E ainda não havia colocado em prática tais conhecimentos. Percebi que estava confortável e animada com tal escolha. Também já tinha feito, anos antes, uma formação em Zen Shiatsu com um renomado médico adepto da Medicina Chinesa.

A etapa seguinte seria estruturar a empresa: estabelecer o objetivo, valores, funcionamento, forma de divulgação etc. As aulas teóricas e vivenciais, muito bem ministradas pelos professores de diferentes estados do Brasil, orientavam os passos para concretizar a empresa. 

Identifiquei que o trabalho com a massagem estava relacionado com a qualidade de vida e saúde do trabalhador. Lembrei-me de algumas palestras a que assisti, nas quais se incentivava o trabalhador a dar o melhor de si, mas não havia menção no que se refere aos cuidados com a saúde desse profissional/empregado/funcionário. Sendo assim, identifiquei os valores que estavam relacionados com a empresa que abriria. E eles estavam bem alinhados com o objetivo do trabalho, assim como com aspectos que valorizo.

Optei por uma QuickMassage. Trata-se de uma massagem rápida, num período de cerca de quinze minutos. Num ambiente de trabalho, seria uma pausa rápida, eficiente e benéfica. O cliente ficaria sentado numa posição ao contrário na cadeira, em cujo encosto seria colocado um travesseiro para acomodar mais confortavelmente o tórax e a cabeça; os braços ficariam ao longo do corpo e os pés apoiados ao chão. Em seguida, pensei numa forma de divulgar o trabalho, alguma frase que definiria a qualidade do que seria realizado. E, mais uma vez, nas partes práticas do curso, elaborei o seguinte: “Já parou para cuidar de você hoje? Massagem Vital, você merece este presente!”

Estabeleci, inicialmente, alguns locais para a execução da Massagem Vital. Os locais escolhidos seriam o meu consultório, que ficava no mesmo bairro onde o curso estava sendo realizado, e o hotel onde acontecia o curso (oferecendo-o para os hóspedes e também para os colegas do curso). Conforme as demandas do curso iam aumentando, muitos colegas ficaram cansados e solicitavam a massagem. Levei, então, um Walkman com fone de ouvido e música relaxante. Tive a ideia de utilizar óleo essencial de capim limão para, através do olfato, ajudar no relaxamento físico, emocional e mental. E também uma máscara para os olhos.

Simultaneamente, o curso solicitava que cada um incrementasse a sua empresa. Adicionei, também, a aplicação de Reiki, um curso que também havia feito e, até então, só o empregava em autoaplicação ou administrando-o em familiares, amigos e animais domésticos de amigos. As pessoas que recebiam a massagem com essas diversas opções davam um ótimo feedback. 

Constatei que o trabalho fluía muito bem. Decidi “contratar” funcionárias para dar conta das demandas e ampliar os locais de atuação. Consegui uma maca para colocar no final de semana no Aterro do Flamengo, onde minhas auxiliares revezavam-se em divulgar o trabalho, aplicar a massagem e receber o pagamento pelos serviços prestados. Levamos um “calote” de um cliente, o que serviu para aprendermos estratégias para evitar e/ou diminuir tais danos.

Ofereci Reikia distância. Assim, “contratei” amigas que aplicavam Reikia distância também. Desse modo, o serviço prestado foi incrementado e ampliou sua área de atuação, diminuindo distâncias e proporcionando bem-estar para as pessoas beneficiadas com o trabalho prestado. 

Foi uma experiência fantástica. Observei como as coisas fluíram: o engajamento das “funcionárias”, as ideias para incrementar o serviço de massagem, a colaboração de alguns funcionários do próprio hotel fornecendo travesseiro, um colchão e roupa de cama para aplicar a massagem que, inicialmente, só era realizada numa cadeira, para que a pessoa pudesse relaxar ainda mais ficando deitada num colchão confortável. 

No final do curso, fiquei em primeiro lugar nesta área. Recebi muitos feedbacks. Constatei que consegui alcançar meu objetivo, também por poder contar com a ajuda das pessoas que se envolveram e se engajaram, que foram comprometidas com o trabalho efetivado. Era a manifestação da rede, da dimensão social. Desse modo, conscientizei-me da importância da habilidade social, do tratamento com respeito às pessoas, da responsabilidade pessoal e social, da humanização do trabalho (não somos máquinas), da valorização da vida e do ser humano, pertencimento, altruísmo, coletividade, liderança compartilhada, entre tantos outros aspectos.

A experiência do Empretec me ajudou a enfrentar um novo desafio: fazer o mestrado. Por fim, decidi fazer mestrado em Psicologia, na área da Saúde, abordando os conceitos de Autoeficácia e Estresse. Devido a uma decisão da Universidade, seria a última turma do mestrado. Alguns professores/orientadores foram despedidos, entre eles, a que seria minha orientadora. Adaptei o que tinha proposto em trabalhar com uma outra orientadora. Assim, concluí o mestrado em Psicologia Social, com uma dissertação cujo tema abordou a Justiça Organizacional em Profissionais da Saúde, relacionando-a com o Estresse no ambiente de trabalho. Desse modo, a saúde do trabalhador, assim como a qualidade de vida no trabalho, foram abordadas sob uma outra perspectiva. 

Simultaneamente, decidi também fazer a Formação Holística na UNIPAZ (Universidade Holística da Paz), que visa à formação integral do ser humano: uma escola da educação e do cuidado integral. A UNIPAZ foi fundada na França por Monique Thoenig (francesa, psicóloga), Pierre Weil (francês, psicólogo), e Jean Yves Leloup (francês, teólogo, filosofo). Tal formação também trazia resquícios da experiência do Empretec. As disciplinas da UNIPAZ ampliaram mais profundamente a minha consciência sobre a vida no planeta, consciência ecológica nas dimensões pessoal, social e ambiental; despertou-me para uma Cultura de Paz; para uma mudança significativa na minha vida, buscando a simplicidade voluntária, entre outros inúmeros aspectos. Era como se a minha visão ampliasse para 360º. Um novo paradigma descortinava-se: do paradigma cartesiano para o holístico. Cuidar mais de si mesmo, do outro e do planeta, considerando-se um ser além de sua nacionalidade, transnacional, interplanetário com uma consciência cósmica, favorecendo a expansão da consciência e ações ecológicas, com uma visão mais ampla do Universo e da nossa interconexão.

Uma das frases que marcaram a experiência do Empretec foi a de Stephen R. Covey que afirma: “Se você deseja mudanças pequenas, trabalhe seu comportamento; se deseja mudanças realmente significativas, trabalhe seus paradigmas”. E o paradigma holístico propõe a totalidade em oposição à fragmentação, utilizando os princípios do holismo para o tratamento do indivíduo: os aspectos físico, mental, emocional e espiritual – que devem ser entendidas como um único organismo. Tal paradigma é inclusivo, integrativo, ao considerar interdependência entre as partes e o todo, numa integrativa cosmovisão, que considera a dinâmica do todo-e-as-partes. Sendo assim, reintegrar o indivíduo à percepção e vivência do todo para relacionar-se melhor com a Natureza, com o outro e consigo mesmo.

E você, já parou para cuidar de si mesmo hoje? Lembre-se que você merece este presente!

 

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*Célia Werner é Psicóloga, com formação em Análise Transacional, Psicologia Hospitalar, Recuperação Motora e Terapia através da Dança, Hipnose. É também pós-graduada em Neurociências aplicadas e mestre em Psicologia Social. Coach, Trainer em Programação Neurolinguística, Aperfeiçoamento em Neuropsicologia, Group and Team Coaching (International Society of Neuro-Semantics)

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